
Significados medievais da Maçã
17/09/2011 09:36No quadro acima de Lucas Cranach, aparece a tradicional visão da maçã como símbolo do pecado original.
A fruta possui um sentido ambíguo durante a Idade Média. De um lado foi identificada como aquela que causou o pecado original. Porém, também pode ter um significado positivo, pois desde o século XI a maçã nas mãos do menino Jesus e na de Maria significa uma referência à absolvição do pecado e à vida eterna (LURKER, 1997: 405).
Nesta imagem, também pintada por Lucas Cranach, Cristo menino segura em suas mãos pão e maçã. A maçã simboliza o pecado original, já o pão (corpo de Cristo), a redenção. A Virgem é considerada a segunda Eva, redimindo o pecado da primeira. É possível ver nas duas pinturas, portanto, primeiro um sentido negativo da maçã, o do pecado, e em seguida um sentido positivo, o da salvação. Meu objetivo neste artigo é justamente mostrar o significado múltiplo desta fruta durante a Idade Média.
É importante ressaltar que a maçã é proveniente de uma árvore, elemento simbólico em várias culturas. Devido ao fato de suas raízes mergulharem no solo e seus galhos voltaram-se ao céu, é considerada como representante das relações entre a terra (o microcosmo) e o céu (macrocosmo). Tem o sentido de centro, e sua forma vertical faz a árvore do mundo ter sinônimo de Eixo do Mundo (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1995: 84), e está também relacionada à cruz da redenção, que na iconografia cristã é representada como a árvore da vida (CIRLOT, 1984: 99).
Sua verticalidade também liga-se à idéia de escada ou montanha. Vários deuses da mitologia grega são associados a árvores: Júpiter (azinheira), Baco (videira), Apolo (louro). No Apocalipse, a árvore da vida frutifica doze vezes, dando um fruto a cada mês (A Bíblia de Jerusalém, 1995, Ap 22,2: 2328), um símbolo de renovação cíclica.
Outro significado para o vegetal era a arbor inversa (árvore inversa) cujas raízes estavam no céu e os ramos na terra, simbolizando a fé e o conhecimento, e representando Cristo (GUREVITCH, 1990: 79). Como pensava-se que a vida era extraída do alto e depois penetrava na terra, Cristo era tido como o mais belo fruto feito pelo céu (Deus) na terra (Maria) (LURKER, 1997: 282). Na Bíblia existe menção a duas árvores, a árvore da vida, que confere a imortalidade e a árvore do conhecimento ou do bem ou do mal.
Fonte: Mirabilia Revista Eletrônica de História Antiga e Medieval
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